terça-feira, 28 de novembro de 2023

43

Na semana passada celebrei 43 anos de vida, desta feita com outras situações de vida familiar a mostrar-nos que o nosso maior bem é mesmo a saúde. Ainda há pessoas que não o entendem, mas lá chegarão. Com os seus altos e baixos, a vida tem me mostrado que i) somos pouco "donos disto tudo" , ii) nada acontece por acaso e iii) o que hoje é certo, amanhã pode não ser. Coisas práticas, na verdade.

Desde há 10 anos, desde o diagnóstico e desde esse annus horribilis, que tenho tentado ser mais prática e mais desligada de certas coisas. Se resulta sempre, a 100%, não, não resulta. Se ajuda em muitas situações do dia-a-dia, lá isso ajuda. O sentido prático também tem impacto no dia-a-dia e no círculo de amigos que temos. Algumas pessoas entram, outras saem da nossa vida. A umas até deixamos entrar no círculo, a outras barramos o acesso. Podemos até ser rotulados de antipáticos ou snobs. No fundo, acho que é só proteção da sanidade mental.

Não sei se já é da idade, mas confesso que perdi um bocado a paciência para certas pessoas, especialmente as que querem ser importantes à custa de tudo e de todos ou as que deliberadamente prejudicam outras, adultas ou crianças, só para seu belo prazer. Anda para aí uma falta de valores morais que até custa ver! Não lhes desejo mal, só distância, quando possível (ou como diria uma amiga nossa, um pessegueiro a nascer num certo sítio do corpo)!

O dia teve os seus momentos bonitos, como todos. Acordar cedo, levar a Rita à escola, cortar o cabelo com a minha Joaninha e um almoço a 3 com charmoso e filhota. 

No final do dia, os parabéns com família e um ramo de flores lindíssimo de uma guerreira com caracóis espampanantes!  Obrigada M. pelo carinho. Sabes que não é preciso nada e estarei sempre aqui. Estás no círculo.

 
Um muito obrigada a quem ligou, a quem mandou sms, a quem enviou mensagem pelas redes sociais.

Por muitos mais anos convosco, com saúde para todos.

Beijinho

Ps. Em relação ao cancro, aquele que motivou a criação deste blog, estou a entrar no 10º ano pós-diagnóstico, ainda em hormonoterapia, com ossos a dar sinais que já estão fartos do comprimido rosa, mas até aos 99 vão ter de suportar este corpito :)

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Tempo que passa

A última entrada no blog é de fevereiro 2022 e muitas foram as vezes em que me lembrei de escrever no blog e vai passando. Não é que não faça falta, porque faz. É porque o tempo passa, a construção da casa exigiu mais de nós do que esperaríamos, a Rita e sua agenda são prioritárias...a vida, na prática e simplicidade do dia a dia, é prioritária.

Tenho sempre tentado ajudar, como posso, por outras vias. Basta ouvir, basta trocar umas mensagens e mostrar a quem está na luta que estamos cá uns para os outros. Que é preciso arrebitar e olhar em frente, Que o cancro não gosta de pessoas felizes. Que o cancro não gosta de abraços, como um dia escrevi a uma menina que me queria dar um abraço quando soube do meu diagnóstico.

 Hoje, pelos EUA, a Terry relembra a história da Lori e de como tudo começou nesta luta que é a de divulgar o cancro inflamatório da mama.

Importa saber, conhecer e identificar atempadamente, seja neste ou noutro tipo de cancro.

Because of her...
https://theibcnetwork.org/because-of-her/

 


 

P.S. Continuo com o tamoxifeno...a entrar no 10º ano de tratamento. Eu e o comprimido rosa temo-nos dado bem, apesar dos efeitos nos ossos e afins.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Ensinamentos

Deixei passar a meia noite e estava a pensar no dia mundial do cancro. É um dia em que me faz pensar na sorte que tenho por estar viva, por ter respondido ao tratamento, por ter conseguido encarar a mastectomia como um passo para estar viva, por ter tido sempre amigos e família por perto, por estar a ver a Rita a crescer (socorro nesta parte).

Sei que no meio de tudo o que aconteceu, no meio da gravidade da situação e da incerteza que ia crescendo, o cancro também me ensinou algumas coisas. 

Ensinou-me a desprender, ensinou-me a distinguir e a selecionar as lutas que quero travar. Ensinou-me a ser resiliente, mas também a refilar mais e a expressar a minha opinião. 

 Ainda hoje comentava com duas colegas que refilo e bufo de vez em quando. Deixei de conseguir engolir sapos ou comer catos. E quando não quero sequer refilar, afasto-me...que melhor do que termos a firmeza de saber ignorar e avançar quando sabemos o que é importante e temos as nossas fronteiras bem definidas.

O cancro tirou-me muito aos 33 anos, mas também ensinou. E não só a mim, a todos à minha volta que foram afetados também.

Cuidem da vossa saúde, alimentem-se bem e façam sempre exames de vigilância. Este foi um legado do cancro...chatear a malta! 

Beijinho & Keep it Simple!

Vera

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Tensão q.b.

Uma ida ao cirurgião plástico é um momento de tensão.

Tensão q.b., entenda-se,  porque as preocupações não são estéticas no meu caso. Há uns quilos a mais, estupidamente concentrados em alguns sítios, mas convivo bem com eles. Esta tensão vai depois desvanecendo ao longo do dia e chega-se ao fim do dia com a sensação de ter ido ao Porto a pé.

Passados 3 anos voltei ao sítio onde senti mais dores na vida...e voltei com um sorriso nas trombas. É preciso ser parva e esquecer que houve momentos em que me apetecia bater em alguém!

Com o covid, fui adiando a consulta de seguimento, mas devemos começar o ano a limpar assuntos pendentes e esse era um deles.

Uns quistos derivados do "lipofilling" precisavam do olhar clínico. Assim que o tiveram, ficaram felizes por saber que não os vamos incomodar nem com aspirações nem com cirurgias. É mesmo para deixar o organismo tratar disso, com o tempo que precisam, com a calma que exigem e com a descontração de quem já olha para os quistos com ar de "Achas que me incomodas depois de tudo o que já vivemos?"

Keep it simple!

Beijinho.





quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Obrigada!

Tenho muito pelo que agradecer. 

Tenho muito a quem agradecer. 

Obrigada pelas dezenas de mensagens e manifestações de carinho por mais um aniversário! 

Agradeço de coração. Fazer anos não é mais do que completar  um ciclo, continuar a vencer as contrariedades, admitir as derrotas, saborear as vitórias e seguir em frente. A perspetiva é simples, como tudo devia ser. Simples como os cabelos brancos que vão surgindo!

O ano passou a correr. Uma entrada apenas no blog, num ano em que o COVID nos continuou a condicionar os movimentos e a escrita, pelos vistos. Tem sido um ano rico em leituras, em obras e na horta.

Escrever menos no blog significa igualmente um maior distanciamento do cancro, aquela coragem ousada de quem diz "já passou" ou "está quase", ainda que persista alguma dor e ainda me arrepie de cima a baixo sempre que o cheiro dos restaurantes H3 me chega ao nariz (nunca comam hambúrguer depois de quimioterapia).  Exames semestrais têm mantido o foco no futuro, o foco na esperança e na vontade de fazer os 80 anos, pelo menos. 

Ainda hoje comentava no café, com duas moças simpáticas, que as perspetivas de vida mudam após certas coisas na nossa vida. Não é só conversa. São as prioridades que se redefinem quando a linha fica torta debaixo dos pés.

Gostava que algumas pessoas conseguissem mudar perspetiva sem ter de sentir o tapete a fugir debaixo dos pés...talvez assim conseguíssemos ser mais amigos, mais tolerantes, mais solidários...na prática, mais pessoas!

Um abraço, cuidem-se e sempre alerta a sintomas. Prevenir não custa e remediar sai-nos sempre mais caro em todos os sentidos.

vera



quarta-feira, 7 de julho de 2021

Dias e meses...

Já me é difícil calcular mentalmente o número de dias em que estive ausente do blog. Não posso culpar a quimioterapia, porque muita gente não entende o conceito do chemo brain e olha para mim com aquele ar de condescendência, como quem diz "Olha a parva. Já terminou a quimio há 6 anos e ainda usa isso como desculpa!".

Usemos, pois, os meses....muito mais fáceis de contar. Desde outubro ausente da blogoesfera. Confinamentos, nova mudança de casa, malas, caixas, trabalho, projetos e projetinhos...alguma coisa tem de ficar para trás, e por norma sou eu...o exercício físico....os livros...e o blog, entre tantas outras coisas.

Aprendi a olhar para o que se não se pode fazer como pacífico e aceitável. Aprendi que o que não tem remédio, remediado está e assim não sofro (tanto) por não fazer tudo o que gostava de fazer. Aprendi que se deve valorizar os pequenos momentos no sofá, o andar sozinha na horta com a  companhia das abelhas (e toupeiras), o ficar sentada no carro com um livro enquanto a criança treina.

Coisas pequenas, claro. Coisas que podem parecer parvas a muita gente. Coisas que para muitos são luxos...mas daqueles luxos que todos podemos ter se assim o quisermos e se assim orientarmos a nossa vida.

Cada vez mais sinto que o maior luxo é mesmo termos saúde, ignorando o cliché. Hoje foi dia de exames de rotina, com a sempre simpática Dra. Isonda. Para a semana, há consulta de oncologia, por isso convém ver se este belo organismo está em bom estado para a revisão com o Dr. Leal. Estar no vestiário antes de exames é um alerta para tudo o que de bom há cá fora.  O cancro tirou-me a "leviandade" com que se fazia os exames médicos antes dele surgir na minha vida e duvido que me devolva essa sensação algum dia. 

Hoje também era o Research Summit na universidade e eu tive de andar em jejum até às 11 e tal...o que vale é que as máscaras disfarçam o mau humor e o meu ar esfomeado. Tive de dividir a ansiedade pelos exames e pelo evento...e achar o ponto de equilíbrio. 

Deixo-vos a imagem de um quadro que comprei recentemente e que traduz o estado de espírito desta jovem quarentona.


Beijinhos e façam exames de prevenção.
Não custa nada prevenir. Custa bem mais depois.

Vera 






terça-feira, 6 de outubro de 2020

O bendito outubro rosa.

Chegou o outubro rosa. 

Toda a gente pode falar de mamas, postar laços cor de rosa e fotos de mamas por todo o lado e não há condenação social. 

Nunca vi o outubro como rosa, nem gosto particularmente que se comemorem coisas que deviam estar enraizadas na nossa mente e nos nossos hábitos. Prevenir durante os 12 meses. O outubro é só rosa, nada mais.

Não há preferências, não há maneira de nos excluirmos da prevenção, só porque não temos ninguém na família com cancro. É uma ilusão tão grande, mas ainda paira na cabeça de muita gente. Depois chega o susto, porque achamos que só acontece aos outros.

Devemos ter medo q.b., mas aquele medo que nos faz ter atenção com os sinais, que nos faz ouvir o nosso corpo e nos faz seguir os protocolos de exames de rotina. Não o medo da vida...seja ela rosa, amarela ou às pintinhas.


Em 2014, peguei num texto que enumerava os fatores de risco para ter cancro de mama e analisei à luz da minha experiência. Já lá vão alguns anos, felizmente, mas copio abaixo o texto. Vale a pena recordar tanta coisa que não encaixava no "perfil".

Enjoy it :)

Vera

"Analisando os fatores e a minha situação em concreto:

  • Idade: a possibilidade de ter cancro da mama aumenta com o aumento da idade.
    Eu tinha 33 no momento de diagnóstico.

  • História pessoal de cancro da mama: uma mulher que já tenha tido cancro da mama (numa mama), tem maior risco de ter a doença na outra mama.
    Nops...

  • História familiar: o risco de uma mulher ter cancro da mama está aumentado se houver história familiar de cancro da mama.
    Apenas uma tia do meu pai teve e já não era jovem. Ainda cá está para contar a história dela.

  • Algumas alterações da mama: algumas mulheres apresentam células mamárias que parecem anormais.
    Fazia ecografias mamárias de 6 em 6 meses. Sempre tudo normal.
     
  • Alterações genéticas: alterações em certos genes (BRCA1, BRCA2, entre outros) aumentam o risco de cancro da mama.
    Fiz esta análise já durante o tratamento e deu negativo felizmente.

  • Primeira gravidez depois dos 31 anos.
    Nops...antes dos 30 e amamentei a Rita durante +- 1 ano.

  • História menstrual: mulheres que tiveram a primeira menstruação em idade precoce (antes dos 12 anos de idade), ou uma menopausa tardia (após os 55 anos) ou que nunca tiveram filhos.
    Fui normal neste aspeto, pelo menos na parte da primeira menstruação. A menopausa não deve ser tardia :(

  • Terapêutica hormonal de substituição: mulheres que tomam terapêutica hormonal para a menopausa, durante 5 ou mais anos após a menopausa.
    Ainda não lá tinha chegado, mas agora já faço hormonoterapia.

  • Raça: o cancro da mama ocorre com maior frequência em mulheres Caucasianas (brancas), comparativamente a mulheres Latinas, Asiáticas ou Afro-Americanas.
    Yep...I'm white.

  • Radioterapia na região peitoral: mulheres que tenham feito radioterapia na região peitoral, incluindo as mamas, antes dos 30 anos, apresentam um risco aumentado para cancro da mama.
    Fiz agora, mas para combater o bicho.

  • Densidade da mama: mulheres com idade mais avançada que apresentam, essencialmente, tecido denso (não gordo) numa mamografia (raio-X da mama), têm risco aumentado para cancro da mama.
    Sempre tive o tecido mamário muito denso, daí as ecografias periódicas que o meu ginecologista sempre me aconselhou.

  • Obesidade depois da menopausa: mulheres obesas, após a menopausa, apresentam um risco aumentado de desenvolver cancro da mama.
    Mais uma vez, ainda não tinha chegado lá, nem me deram a oportunidade de engordar :)

  • Inactividade física: mulheres que são fisicamente inactivas, durante a sua vida, parecem ter um risco aumentado para cancro da mama; estar fisicamente activa pode ajudar a diminuir este risco, através da prevenção do aumento de peso e da obesidade.
    É estúpido, mas eu e o meu charmoso tínhamos entrado para o ginásio poucos meses antes do diagnóstico. Não considero, no entanto, que estivesse fisicamente inativa, até porque com uma pestinha de 3 anos, seria difícil ser inativa cá em casa!

  • Bebidas alcoólicas: alguns estudos sugerem haver relação entre a maior ingestão de bebidas alcoólicas e o risco aumentado de ter cancro da mama.
    A minha boa disposição (quase sempre) não depende do álcool. Beber um copo de vinho ou uma cerveja de vez em quando chega-me. "